Ela peitou o racismo institucional, criou a maior feira negra da América Latina e contribuiu para a formação do conceito de empreendedorismo negro no Brasil.
Em 15 anos de Feira Preta, um espaço de valorização da produção e da cultura negra, Adriana Barbosa já levou mais de 130 mil pessoas a eventos e ajudou outros empreendedores a movimentarem cerca de R$ 3,5 milhões em São Paulo, Brasília, São Luís e Rio de Janeiro.
Recentemente criou a Black Codes, uma plataforma de pesquisa sobre consumo da população negra.
Resistência e oportunidade
Foi a necessidade que levou Adriana Barbosa, paulistana formada em Gestão de Eventos, a empreender.
Em 2002, desempregada, ela se juntou a uma amiga e começou a vender peças de roupas, suas e de conhecidos, que estavam encostadas no armário.
A seleção foi tão boa que, em pouco tempo, ela viu o estoque crescer a ponto de virar um brechó itinerante.
De feira em feira, Adriana vendia suas peças com uma pequena margem de lucro, que a permitia juntar um dinheirinho e ainda reinvestir na compra de outros produtos usados.
Ela percorreu todas as feiras alternativas de São Paulo, até o dia em que foi vítima de um arrastão que levou embora quase todo seu estoque, e, com ele, grande parte do seu investimento.
Em meio à angústia da perda, de modo inesperado, nasceu a ideia que mudaria para sempre a vida de Adriana.
E se, em vez de disputar espaços ocupados em sua maioria por pessoas brancas, ela pudesse expor peças com as quais ela se identificasse, para pessoas que tivessem os mesmos gostos e interesses do que ela?
“Queria trazer nossa cultura e nossa personalidade para o espaço das feiras. Produtos para pessoas negras, produzidos por pessoas negras”, diz Adriana.
Assim nasceu a Feira Preta
Um evento criado para celebrar e divulgar os costumes e tradições da população afro-brasileira, e para fomentar negócios de empreendedores da comunidade negra.
Além de acreditar na importância da representatividade, a feira também tem por objetivo suprir uma lacuna no fornecimento de produtos para um nicho de mercado muito grande e pouco explorado.
De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), 51% dos brasileiros se declaram negros ou pardos. “Negras e negros são mais da metade da população brasileira.
Isso representa um potencial de mercado enorme, que não estava recebendo a atenção das marcas”, afirma Adriana.
Sucesso absoluto desde a primeira edição, quando recebeu quase 7 mil pessoas para conhecer e prestigiar o trabalho de 40 empreendedores locais.
A Feira Preta já recebeu mais de 130mil visitantes e 500 expositores em quatro estados brasileiros, e movimentou mais de R$ 3,5 milhões em 15 anos de história.
Hoje, é considerada a maior feira negra da América Latina.
Por conta própria
A Feira Preta hoje é muito mais que um evento. Se transformou em uma plataforma de impulsionamento do empreendedorismo negro, oferecendo cursos de formação e trocas de experiência entre empresários.
Em 2009, o Instituto Feira Preta criou o primeiro coworking com foco em abrigar projetos voltados para a valorização da produção negra, a Casa Preta.
A iniciativa recebeu apoio da Cooperação Internacional AECID e da Embaixada da Espanha e, em apenas três anos, realizou uma série de cursos, exposições, shows, mostras, saraus, bazares e venda de produtos afros.
O instituto também já fez parcerias com o Sebrae, por meio do programa Preta Qualifica, que proporciona formação técnica para artistas, artesãos e microempresários negros e pardos.
Adriana explica que existem dois perfis de empreendedores negros no Brasil.
As pessoas que têm um negócio próprio por necessidade, e os empreendedores mais jovens, que enxergaram um potencial de mercado nesse nicho específico.
Os mais novos também acreditam que ser negro e empreender é uma maneira de resistência, e uma oportunidade de reescrever a própria narrativa de vida valorizando sua história e ancestralidade.
O último estudo sobre Micro Empreendedores Individuais divulgado pelo Sebrae aponta que mais da metade dos pequenos empreendedores brasileiros são negros.
Entre 2002 e 2012, o número de pessoas negras que lideram empresas cresceu 27%, contra uma redução de 2% no número de pessoas brancas que fazem o mesmo.
A maior parte desses empreendedores são mulheres negras, híper qualificadas, que não encontram espaço no mercado tradicional.
“E apesar de termos tantos empreendedores negros, ainda existe muito pouco incentivo institucional, como editais, formação de longo prazo e linhas de créditos voltadas para esses empreendedores”, diz Adriana.
Segundo Problema á enfrentar
Outro problema enfrentado pelos empreendedores negros, e por marcas que querem vender para esse nicho, é a falta de informação sobre consumo da população negra.
Por isso, em 2016, Adriana se uniu ao publicitário, antropólogo e amigo Diego Gervaes, e criou a Black Codes, a primeira start-up de inteligência brasileira que fornece insights sobre consumo de pessoas negras a partir de pesquisas de mercado.
Para Adriana, empreender vai além de vender um produto ou serviço.
É um modo de apoiar outras mulheres negras que queiram se tornar independentes.
O recado que ela deixa para quem está começando?
“Compartilhe seu conhecimento e esteja disponível para o coletivo. Se fortaleça com outras empreendedoras. A luta é árdua e parece solitária, mas não é. Esse é um caminho coletivo.”
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Fontes: https://shemeansbusiness.fb.com/